Um homem caminha na areia, pensativo, sem saber bem em que pensar, sentindo-se mais do que nunca, apenas mais um.
Quando ela o abandonou, disse apenas: “você é como todos os outros. ”
Como todos os outros... Essas palavras ficaram em sua mente. E agora, enquanto caminhava na areia, sentindo o vento frio e a chuva fina, se perguntava por que tinha sido tão igual, se sua intenção sempre foi ser apenas ele.
Havia dado aquela mulher tudo o que tinha de melhor, todos os seus sentimentos mais secretos, seus sonhos, seus planos... Tinha despido para ela seu corpo e sua alma.
Ela o havia chamado de fraco, disse que sua personalidade mudou com o correr do tempo, que era como se ele tivesse perdido em algum ponto do caminho seu espírito. Era verdade, ele tinha mudado, mudou por ela, eliminou de si o que ela chamava defeito e aperfeiçoou o que ela dizia ser qualidade. E agora ela se vai... Ele domou seu espírito indomável e o entregou manso a ela, ela o enjaulou por um tempo, e quando se cansou dele soltou no mundo. E de que serve um espírito manso nesse mundo selvagem?
Caminhando contra a chuva fria ouvindo o ruído do mar ele para e olha para as ondas... Aproxima-se mais da água e sente a espuma gelada tocar seus pés descalços ele grita, tentando com isso talvez recuperar seu verdadeiro eu. Tudo em vão. Nada havia do antigo homem ali, ele era apenas cacos, milhões de pedaços do antigo homem...Irrecuperáveis.
Ele chora, joga-se de joelhos na beira do mar, sem ligar para o frio que gelava seu corpo, sentindo dentro de si um frio maior. Sabendo que teria que juntar todos os milhões de pedaços, e deles fazer um novo homem.
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